Nicole K., artista francesa radicada no Brasil, marcou profundamente o cenário artístico e artesanal do país com sua visão inovadora e sensibilidade cultural. Com uma carreira rica e multifacetada — que inclui pintura, tapeçaria, ilustração e literatura — Nicole também foi uma das pioneiras na criação e valorização artística das bonecas de pano no Brasil.
Sua primeira exposição e lançamento dessas bonecas ocorreu em 1976, na icônica loja Giovanna Baby, na Rua Augusta, em São Paulo. Em uma época em que o artesanato começava a ser redescoberto sob uma ótica mais autoral e estética, Nicole introduziu um conceito novo: bonecas que não apenas encantavam pela forma e cor, mas que também carregavam narrativas visuais, afetivas e culturais. Suas criações não eram brinquedos comuns, mas pequenas obras de arte em tecido, cuidadosamente confeccionadas para expressar memórias, sentimentos e símbolos femininos.
Nos anos 1980, foi destaque na extinta Revista Cruzeiro como a pioneira da criação de Bonecas de Pano no Brasil.
O trabalho de Nicole com bonecas de pano pode ser compreendido como uma extensão de sua produção artística voltada à figura da mulher — tema central de exposições anteriores, como “A mulher exótica brasileira” (1975) e “As meninas do passado” (1976). Com as bonecas, ela materializou essas inspirações de forma lúdica e acessível, contribuindo para uma releitura contemporânea da identidade feminina e do fazer manual.
Seu pioneirismo não está apenas na técnica, mas também na maneira como posicionou as bonecas de pano dentro do universo artístico. Elas deixaram de ser vistas apenas como brinquedos infantis e passaram a ocupar espaços de galeria, vitrines de lojas sofisticadas e coleções particulares — um movimento importante para a valorização do artesanato como expressão legítima da arte.
A trajetória de Nicole K. revela uma artista comprometida com a experimentação e a integração entre culturas. Com raízes francesas e alma brasileira, ela criou uma ponte poética entre o Velho e o Novo Mundo, entre o tradicional e o contemporâneo, tornando-se uma referência singular no panorama das artes plásticas e do artesanato nacional.